É muito importante manter os cuidados essenciais com a cavidade oral para prevenir alterações que podem ter um profundo impacto na qualidade de vida da criança durante e após o tratamento.
Escovar os dentes no mínimo 2 vezes por dia com uma pasta dentífrica com flúor (ver informação abaixo), durante o tempo necessário para garantir que todas as superfícies dos dentes são abrangidas, sem esquecer a língua. Privilegiar movimentos circulares e, se possível, evitar bochechar com água no final, ensinando a criança a cuspir apenas o excesso de dentífrico. Esta medida prolonga o efeito protetor do flúor na superfície dos dentes.
Um dos momentos de escovagem deve ocorrer obrigatoriamente à noite, após a última ingestão de qualquer elemento, líquido ou sólido (esta recomendação inclui alimentos, mas também fármacos).
Passar o fio/fita dentários de forma cuidadosa (movimentos horizontais e não verticais), no mínimo 1x/ dia em dentes em contacto (mais “juntinhos”) . O fio deve ser usado, se possível à noite, antes da última escovagem (evitar em fases de diminuição da quantidade de neutrófilos e plaquetas ou de mucosite). Em crianças mais pequenas pode ser útil usar um aplicador de fio.
A escovagem e utilização de fio dentário devem ser realizadas ou supervisionadas por um adulto, dependente da idade e nível de autonomia da criança.
A escova usada deve ser suave ou ultra-suave, adaptada à dimensão da boca da criança e com cabo ergonómico, facilitando a pega.
Deve ser assegurada a troca regular da escova e a sua correta higienização (por exemplo com o colutório de clorexidina a 0,12%, à venda em farmácias/ parafarmácias).
Em situações de mucosite (uma inflamação que provoca ferimentos na boca e no sistema digestivo), ou de níveis de plaquetas e glóbulos brancos baixos, a escova deve ser ultra macia ou mesmo do tipo pós-operatória/pós-cirúrgica (à venda nas farmácias). Pode ser utilizada gaze, eventualmente como forma de veiculo de determinado agente terapêutico, caso a utilização da escova ultra-macia não seja tolerada.
De acordo com as guidelines da Academia Europeia de Odontopediatria, a quantidade recomendada de pasta de dentes para crianças é:
desde a erupção do 1º dente e até aos 2 anos – quantidade equivalente a um grão de arroz;
dos 2 aos 6 anos – quantidade equivalente a um grão de ervilha;
mais de 6 anos – quantidade equivalente à medida (transversal) da escova.
A pasta de dentes escolhida deve ser adaptada à faixa etária, tendo por base a capacidade da criança cuspir e grau de risco para a cárie dentária (ou outra doença oral). Recomenda-se também que o sabor vá ao encontro das preferências da criança.
De acordo com as actuais recomendações da Academia Europeia de Odontopediatria, a concentração de flúor desde o primeiro dente até aos 6 anos é de 1000 ppm, e a partir dos 6 anos 1450 ppm. Estas recomendações poderão variar em função da avaliação do risco individual de cada criança. Caso o risco seja elevado pode haver indicação por parte do Médico Dentista para serem consideradas concentrações de flúor na pasta acima de 1000 ppm mesmo em crianças de idade inferior a 6 anos.
Para além disso, as pastas não devem conter lauril sulfato de sódio (LSS) e, deve-se evitar os sabores fortes como o mentol, sabores excessivamente doces ou intensos, procurando dentífricos neutros e adequados a mucosas mais sensíveis.
No momento da escolha é fundamental consultar estas informações no rótulo, secundarizando indicações como “idade”. O mais seguro será sempre o aconselhamento com o Médico Dentista para perceber qual o dentífrico mais adequado para a criança.
A escovagem deve abranger todos os dentes, em todas as suas superfícies, assim como a região da margem gengival, privilegiando movimentos circulares.
A língua também deve ser higienizada. A força de escovagem deve ser controlada. A supervisão ou complemento da escovagem por parte de um adulto é recomendada.
Se as mucosas estiverem sensíveis, com feridas (aftas) decorrentes dos tratamentos oncológicos ou mucosite, o que posso fazer?
Em primeiro lugar, consulte o seu Médico Dentista, não apenas para avaliação e aconselhamento geral, mas também porque existem algumas técnicas disponíveis, como a fotobiomodulação (LASER de baixa intensidade), que podem contribuir para melhorias significativas ou mesmo evitar o aparecimento ou gravidade destas lesões.
- Deve manter a rotina de higiene oral de forma adaptada, com uma escova de cerdas suaves e dentífrico sem lauril sulfato de sódio (LSS), por forma a minimizar a carga microbiana e prevenir a sobreinfecção.
Hidratar os lábios abundantemente com produto adequado para pele sensível contendo lanolina (a vaselina não é recomendada).
- Embora não exista nenhuma recomendação consensual baseada em ciência, podem ser aplicados alguns produtos de forma tópica ou bochechos que poderão aliviar estas condições como: soro fisiológico 0,9%; solução de bicarbonato de sódio 1% (1 colher de chá em 1 copo de água filtrada); clorexidina 0,12% sem álcool colutório/gel; géis de aplicação tópica com efeito cicatrizante, contendo por exemplo, ácido hialurónico ou similares. Alguns produtos naturais, como o azeite, também demonstraram efeitos benéficos, embora o seu sabor seja mais difícil de tolerar.
Durante o tratamento devem ser evitados alimentos irritantes, como ácidos, salgados, duros ou muito quentes e bebidas gaseificadas.
- Para prevenção do aparecimento da mucosite pode considerar-se a crioterapia local, antes ou durante o tratamento de quimioterapia, através da aplicação controlada de porções de gelo ou de água gelada na boca, se a cooperação da criança o permitir.
Durante a fase de tratamento oncológico é possível realizar tratamentos dentários.
Após a avaliação e diagnóstico, o Médico Dentista em cooperação com o Médico Oncologista, e respeitando as fases da doença/tratamento, bem como avaliação cautelosa das condições sistémicas (particularmente em casos de neutropénia e trombocitopénia), planeiam os tratamentos dentários necessários para uma adequada saúde oral.
Após o diagnóstico oncológico devo ir à consulta de Medicina Dentária?
Está provado que pacientes com melhores condições de Saúde Oral apresentam menos complicações e sequelas orais do tratamento oncológico com melhorias na qualidade de vida.
Por isso, idealmente a consulta deve ocorrer logo após o diagnóstico e antes de iniciar o tratamento oncológico.
Já durante o tratamento oncológico o Médico Dentista, em articulação com o Médico Oncologista e de acordo com parâmetros bem definidos, adequa a sua estratégia de instrução e plano de tratamento de Saúde oral à fase do tratamento oncológico.
Com que idade deve ser realizada a primeira consulta?
Idealmente, e de acordo com a Academia Americana de Odontopeditaria, a primeira consulta de Medicina Dentária deve ocorrer quando erupcionam os primeiros dentes temporários (ou de “leite”) ou, no máximo, até a criança completar um ano de vida.
Conteúdo desenvolvido com o apoio da Associação Carol’s – O sorriso da Esperança



