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Dispositivos “wearables” mostram potencial para melhorar o cuidado no cancro pediátrico

Uma nova revisão de estudos internacionais analisou o uso de dispositivos “wearables” — como pulseiras inteligentes ou sensores colocados no corpo — na oncologia pediátrica e em jovens até aos 25 anos. A investigação mostra que estes dispositivos têm potencial para melhorar o acompanhamento dos efeitos dos tratamentos, mas o seu uso ainda é limitado e desigual, especialmente quando comparado com a oncologia em adultos.

A revisão identificou 77 estudos que usaram dispositivos wearables para recolher dados fisiológicos de crianças e jovens com cancro, tanto durante como após o tratamento. Destes, 79% usaram os dispositivos apenas para recolher dados, como o nível de atividade física, padrões de sono ou sintomas relacionados com os tratamentos. Apenas 16 estudos (21%) integraram os dispositivos como parte ativa de uma intervenção clínica.

Que tipo de dados podem recolher?

Estes dispositivos não invasivos, colocados no pulso, na cintura ou diretamente na pele, conseguem medir:

  • Batimentos cardíacos
  • Frequência respiratória
  • Saturação de oxigénio
  • Movimento e número de passos
  • Qualidade do sono

Contudo, a maioria dos estudos focou-se apenas no registo de atividade física (35%) ou de sono (22%). Menos de 15% utilizaram os sensores mais avançados para monitorizar sinais vitais em tempo real, como batimentos cardíacos ou respiração.

Ainda há muitas barreiras

A revisão identificou várias dificuldades técnicas. Em cerca de 26% dos estudos, os participantes enfrentaram problemas com sincronização de dados ou ligação dos dispositivos. Alguns estudos também reportaram irritações na pele causadas pelo contacto prolongado com os sensores.

Outro desafio foi a adesão ao uso prolongado dos dispositivos. Embora muitos estudos tivessem boa adesão no início, essa adesão caiu ao longo do tempo, especialmente em estudos mais longos. A média de tempo de uso foi de 12 horas por dia, durante 6 dias por semana.

Além disso, poucos estudos consideraram fatores como o conforto do dispositivo, o papel dos pais ou cuidadores na adesão ao uso ou o impacto da localização do sensor (pulso vs cintura) na aceitação por parte das crianças — aspetos fundamentais em oncologia pediátrica.

Dispositivos ainda pouco validados para uso clínico

A maioria dos dispositivos usados nestes estudos são ferramentas comerciais ou de investigação, e apenas os da marca Philips Respironics foram validados como dispositivos médicos para uso pediátrico. A fisiologia das crianças varia muito consoante a idade, o que dificulta a validação de dados — por exemplo, a frequência cardíaca “normal” de um bebé é muito diferente da de um adolescente.

Oportunidade para melhorar os cuidados

Apesar das limitações, os dispositivos wearables têm potencial para:

  • Detetar precocemente efeitos secundários dos tratamentos
  • Ajudar na gestão de sintomas como fadiga, náuseas ou febre
  • Promover a autonomia dos jovens no seu próprio cuidado
  • Reduzir a carga de hospitalizações ou consultas desnecessárias

Em alguns casos, os dados dos dispositivos já estão a ser integrados nos registos clínicos de hospitais, como acontece em alguns centros nos EUA. Estes avanços sugerem que, com mais investigação, os dispositivos wearables podem tornar-se uma ferramenta útil e acessível para acompanhar e melhorar a qualidade de vida de crianças com cancro.

Conclusão

Este estudo destaca a necessidade de:

  • Mais investigação com dispositivos validados para pediatria
  • Estudos que envolvam crianças, jovens e cuidadores nas decisões de design e implementação
  • Atenção à equidade no acesso à tecnologia, especialmente para famílias com menos recursos

Embora ainda haja desafios técnicos e logísticos, o futuro dos dispositivos wearables na oncologia pediátrica poderá passar por soluções personalizadas, acessíveis e centradas no bem-estar dos jovens doentes e suas famílias.

Fonte: Nature

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