Uma equipa do Children’s Hospital Los Angeles (EUA) descobriu diferenças cruciais entre os dois principais tipos de rabdomiossarcoma pediátrico, o que poderá abrir caminho a terapias mais específicas e eficazes para este tipo de cancro raro nos músculos esqueléticos.
O estudo, publicado na Journal of Cell Biology, revelou que os tumores com o gene de fusão PAX3-FOXO1 interagem muito menos com a matriz extracelular — a estrutura que envolve e sustenta as células — do que os tumores sem esse gene. Quando os investigadores eliminaram o gene, essas células tumorais passaram a depender da matriz para sobreviver, comportamento semelhante ao das células sem a fusão.
Uma matriz que pode ser decisiva
O rabdomiossarcoma é o cancro dos tecidos moles mais comum em crianças e adolescentes. Os tumores podem ser positivos (com o gene PAX3-FOXO1) ou negativos à fusão (sem o gene). Os tumores com esta fusão genética tendem a ser mais agressivos, mas ambos os tipos são tratados atualmente com os mesmos protocolos — cirurgia, quimioterapia e radioterapia.
A equipa liderada por JinSeok Park, investigador no Cancer and Blood Disease Institute do CHLA (EUA), concentrou-se na forma como os tumores interagem com a matriz extracelular. Descobriu que:
- Os tumores negativos à fusão interagem fortemente com a matriz extracelular. Essa interação é mediada pela via de sinalização TGFβ, essencial para que estas células se “agarrem” à matriz e sobrevivam. Quando essa ligação foi interrompida, as células morreram.
- Os tumores positivos à fusão são menos dependentes da matriz. O gene PAX3-FOXO1 reprograma as células tumorais, tornando-as mais móveis e menos dependentes da matriz, o que pode facilitar a sua disseminação (metástases).
- Ao remover o gene PAX3-FOXO1, os investigadores conseguiram tornar as células novamente dependentes da matriz — e vulneráveis ao bloqueio da sua interação com ela.
“Conseguimos transformar tumores positivos à fusão em tumores mais semelhantes aos negativos, o que nos permite atuar sobre o mesmo alvo terapêutico”, explica JinSeok Park.
Próximos passos
A equipa está agora a aprofundar a relação entre a expressão variável do gene PAX3-FOXO1 e a resposta ao tratamento. “Verificámos que os níveis de expressão deste gene variam muito entre tumores positivos, e acreditamos que isso influencia a eficácia das terapias”, acrescenta o investigador.
Este avanço poderá contribuir para terapias mais personalizadas no tratamento do rabdomiossarcoma pediátrico, explorando a matriz extracelular como novo alvo terapêutico e abrindo caminho a abordagens mais eficazes e menos agressivas para as crianças com esta doença.
Fonte: Medical Express