Investigadores da University of Kentucky Markey Cancer Center (EUA) estão a utilizar um peixe tropical, o peixe-zebra, para estudar o cancro pediátrico e acelerar a descoberta de terapias mais eficazes e menos tóxicas.
Este peixe de água doce, com pele translúcida, permite observar em tempo real como os tumores se desenvolvem, desde uma única célula até à formação completa do tumor — algo que não é possível noutros modelos laboratoriais. Além disso, o peixe-zebra metaboliza os medicamentos de forma semelhante aos humanos, o que permite prever com mais precisão a resposta aos tratamentos.
Modelo “Avatar” ajuda a personalizar terapias
Jessica Blackburn, investigadora no Markey Cancer Center e professora associada no Departamento de Bioquímica Molecular e Celular da University of Kentucky, lidera um projeto inovador chamado “Avatar”. Neste modelo, células tumorais de crianças com cancro são injetadas em peixes-zebra, que são depois tratados com vários fármacos para testar qual é mais eficaz para cada criança.
Em apenas cinco dias, os investigadores conseguem obter dados que podem orientar decisões clínicas — uma enorme vantagem em comparação com modelos em ratinho, que demoram até seis meses.
“Às vezes, as crianças não têm seis meses. Esta técnica pode complementar o que os médicos já fazem”, explicou Blackburn.
O objetivo é transformar este modelo num apoio real à escolha de terapias personalizadas, com base no comportamento do tumor de cada criança dentro do peixe-zebra.
Potencial para casos mais difíceis e com menos opções
Embora existam tratamentos para muitos tipos de cancro pediátrico, estes podem deixar sequelas significativas a longo prazo. Blackburn acredita que o modelo com peixe-zebra poderá ajudar a encontrar medicamentos mais eficazes e menos agressivos, sobretudo para os casos em que as opções atuais são limitadas.
Atualmente, a equipa está a recolher dados retrospectivos com amostras já armazenadas de crianças que foram tratadas, para comparar os resultados obtidos no peixe com a resposta real dos pacientes. O passo seguinte será testar como os medicamentos funcionam em tempo real, com base nesta tecnologia.
Investigação premiada e apoio a novos cientistas
Blackburn é também reconhecida pelo seu trabalho como mentora. Mais de 50 estudantes de licenciatura que passaram pelo seu laboratório seguiram carreira na medicina ou na ciência.
Uma dessas investigadoras, Majd Al-Hamaly, utilizou o modelo com peixe-zebra para estudar leucemia linfoblástica aguda de células T. Testou mais de 770 fármacos já aprovados e descobriu uma nova proteína ligada à capacidade de autorrenovação das células leucémicas. Esta descoberta poderá abrir caminho para novos tratamentos.
Um modelo com impacto real
O uso de peixe-zebra permite testar rapidamente centenas de medicamentos e identificar os mais promissores, com maior relevância biológica do que os métodos tradicionais de cultura celular. Além disso, o modelo oferece esperança de que se possa avançar para terapias mais eficazes, personalizadas e com menos efeitos secundários para crianças e adolescentes com cancro.
“O cancro pediátrico não é justo”, disse Blackburn. “Quero dedicar o meu tempo a melhorar o que fazemos pelas crianças.”
Fonte: University of Kentucky