Uma equipa do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) desenvolveu uma nova terapia com células CAR que se revelou altamente eficaz contra tumores sólidos agressivos, como os do estômago, pâncreas e ovário. O estudo foi publicado esta semana na revista Cell Reports Medicine.
Esta nova abordagem representa um avanço importante no campo da imunoterapia, ao mostrar resultados promissores em tipos de cancro que continuam a ter opções terapêuticas limitadas.
A investigação centrou-se num glicano específico chamado Sialyl-Tn (STn), que está ausente em tecidos saudáveis, mas é altamente expresso em vários tumores epiteliais. A equipa desenvolveu um novo anticorpo monoclonal, o AM52.1, capaz de reconhecer exclusivamente este glicano. A partir daí, criaram células CAR T — células do sistema imunitário modificadas geneticamente para identificar e atacar células tumorais com precisão.
A nova terapia foi testada com sucesso em modelos pré-clínicos — incluindo organoides e modelos animais com tumores derivados de doentes — demonstrando uma eliminação eficaz das células tumorais mesmo em casos com baixos níveis de expressão do STn. Segundo os investigadores, a especificidade do tratamento permitiu atingir os tumores sem provocar efeitos adversos nem toxicidade.
“As novas células CAR T ativam-se de forma robusta ao reconhecerem as células tumorais com expressão do glicano, produzindo compostos tóxicos que eliminam eficazmente as células cancerígenas”, explicou Rafaela Abrantes, primeira autora do estudo, investigadora no grupo Glycobiology in Cancer do i3S e doutoranda no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar.
O projeto contou também com a colaboração da Unidade de Terapia Celular do Hospital Universitário de Oslo (Noruega).
Apesar de a investigação ainda estar numa fase laboratorial, os resultados alcançados abrem caminho para futuras aplicações clínicas, incluindo em cancros que afetam a população pediátrica, caso se verifique a expressão do glicano STn neste grupo. A possibilidade de usar células T do próprio doente para desenvolver terapias personalizadas poderá representar um passo importante para terapias menos tóxicas e mais eficazes.
Fonte: Notícias ao Minuto