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Falar sobre a morte ajuda a viver melhor – e a cuidar melhor

Educar sobre a morte pode parecer difícil, mas poderá ser uma estratégia eficaz para ajudar profissionais de saúde, famílias e até crianças a lidar com a perda de forma mais consciente e tranquila. Uma revisão internacional liderada pela Università di Pavia (Itália), em colaboração com a University of Bath (Reino Unido), analisou os programas educativos existentes sobre a morte e o impacto que têm nas atitudes e emoções das pessoas.

Publicado na revista OMEGA – Journal of Death and Dying, o estudo avaliou 45 programas implementados entre 2014 e 2024, em 11 países de quatro continentes, envolvendo mais de 5 mil participantes, entre estudantes, profissionais de saúde, cuidadores e familiares.

Que programas são estes?

A maioria destas intervenções é feita em grupo e de forma presencial, com atividades como contar histórias, teatro, reflexão pessoal e discussões guiadas. Há também formatos digitais e híbridos. A duração varia entre alguns dias e 16 semanas, mas a eficácia depende mais da qualidade do conteúdo do que do tempo.

Apesar da diversidade de métodos, poucos programas têm uma base teórica clara. Isso, segundo os autores, torna difícil avaliar resultados e criar boas práticas replicáveis.

Programas com melhores resultados costumam ter três características:

  • base teórica sólida;
  • métodos ativos e reflexivos;
  • ligação com a prática real (como contextos clínicos ou escolares).

Benefícios para todos

As iniciativas de educação sobre a morte demonstraram ser úteis para:

  • reduzir o medo e a ansiedade associados ao fim da vida;
  • melhorar a comunicação entre profissionais de saúde e famílias;
  • ajudar no planeamento de cuidados futuros;
  • promover atitudes mais empáticas e conscientes.

Em contexto clínico, estas formações ajudam a prevenir o desgaste emocional das equipas e promovem uma abordagem mais humanizada nos momentos difíceis. Em contexto comunitário, contribuem para normalizar um tema que continua a ser tabu em muitas sociedades.

“Sem espaços educativos adequados, muitos profissionais acabam por criar barreiras emocionais ou sentir impotência. Falar sobre a morte pode funcionar como uma forma de prevenção e cuidado emocional”, explicam os autores.

O que falta fazer?

Apesar dos benefícios comprovados, estes programas ainda são pouco implementados e, muitas vezes, são opcionais e isolados. Em países como o Reino Unido e na região norte da Europa, há já experiências mais consolidadas, com espaços de partilha como os Death Cafés ou a inclusão do tema nas escolas. Noutros países, como Itália, a morte continua a ser um assunto pouco abordado fora do contexto clínico ou de emergência.

Segundo os investigadores, também seria importante alargar a formação a profissionais muitas vezes esquecidos, como agentes funerários, assistentes administrativos ou cuidadores informais.

Uma questão de saúde

A educação sobre a morte é cada vez mais vista como uma ferramenta de saúde pública. Não se trata apenas de preparar para o fim da vida, mas de aprender a viver com mais consciência, empatia e humanidade.

Fonte: Medscape

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