Uma forma agressiva de leucemia que afeta sobretudo bebés poderá vir a ser tratada com terapias mais direcionadas e menos tóxicas, graças a novas descobertas sobre o metabolismo das células tumorais. Os resultados de um estudo pré-clínico, hoje publicados na revista Haematologica, revelam que a restrição de um nutriente essencial — a metionina — pode inibir o crescimento de células de leucemia com uma mutação específica, o gene de fusão MLL.
Esta investigação foi liderada por Trisha Tee, durante o seu doutoramento no grupo de investigação de Frank van Leeuwen, no Princess Máxima Center (Países Baixos), em colaboração com Laurens van der Meer.
Dependência da metionina
A leucemia linfoblástica aguda (LLA) com fusão MLL, mais comum em bebés, mostrou ser fortemente dependente da metionina, um aminoácido presente em alimentos ricos em proteína. Os investigadores descobriram que, ao limitar o acesso a este nutriente, o crescimento das células tumorais é travado.
Modelos animais com esta forma de leucemia tratados com uma dieta pobre em metionina demonstraram redução significativa do crescimento tumoral. Além disso, o efeito foi replicado com um fármaco experimental — um inibidor de MAT2A — que interfere diretamente com o metabolismo da metionina.
Terapia combinada potencia efeitos
Num segundo momento do estudo, os investigadores recorreram ao centro de rastreio de alta capacidade do Princess Máxima Center para testar centenas de medicamentos já utilizados em oncologia. Descobriram que a combinação do inibidor de MAT2A com um inibidor de HDAC (fármaco já comum na prática clínica) potencia o efeito anti-tumoral.
“Estes resultados mostram que é possível interferir no metabolismo da célula tumoral de forma eficaz. E acreditamos que estas terapias, por serem mais dirigidas, tenham menos efeitos secundários a longo prazo do que a quimioterapia tradicional”, explica Van der Meer.
Próximos passos e potencial clínico
Estão em curso estudos adicionais para avaliar a viabilidade clínica destas terapias combinadas. A alimentação sem metionina já é utilizada em bebés com doenças metabólicas hereditárias, o que poderá facilitar a sua eventual aplicação em contexto oncológico pediátrico. No entanto, será necessário avaliar o efeito destas abordagens em combinação com os tratamentos padrão, como a quimioterapia ou imunoterapia.
Outros estudos do mesmo grupo também demonstraram que a restrição de metionina pode bloquear o crescimento de células de neuroblastoma, o que sugere que esta abordagem pode ter um alcance mais alargado.
“O nosso objetivo é aumentar a taxa de sobrevivência e garantir melhor qualidade de vida para bebés com esta forma agressiva de leucemia e para outras crianças com cancro”, conclui Van Leeuwen.
Fonte: Princess Máxima Center