Um novo estudo conduzido na Suécia identificou uma possível associação entre cesarianas programadas sem indicação clínica e um risco mais elevado de leucemia linfoblástica aguda (LLA), o tipo mais comum de cancro pediátrico.
A investigação, publicada a 4 de julho no International Journal of Cancer, analisou mais de 2,4 milhões de nascimentos ocorridos entre 1988 e 2019. Os dados indicam que crianças nascidas por cesariana planeada apresentam um risco 21% superior de desenvolver LLA, em comparação com as que nasceram por parto vaginal.
Apesar do aumento relativo, os investigadores sublinham que o risco absoluto continua a ser baixo — nos Estados Unidos, por exemplo, cerca de 4,8 em cada 100 mil crianças são diagnosticadas com LLA por ano.
O estudo foi liderado por Christina Evmorfia-Kampitsi, investigadora do Karolinska Institutet (Suécia), que reforça: “As nossas conclusões reforçam estudos anteriores que sugerem uma ligação entre LLA e cesarianas — especialmente as programadas. Mas é fundamental lembrar que a cesariana é muitas vezes uma intervenção salvadora quando clinicamente necessária.”
A associação identificada manteve-se mesmo após o ajuste de múltiplos fatores de risco, como idade materna, diabetes, pré-eclâmpsia, malformações congénitas e evolução das práticas obstétricas ao longo do tempo.
Hipóteses para a associação
Os cientistas propõem duas possíveis explicações para esta ligação. Uma delas relaciona-se com a ausência de contacto com microrganismos presentes no canal vaginal durante o nascimento, considerados importantes para o desenvolvimento saudável do sistema imunitário. A outra hipótese aponta para a falta de exposição ao stress fisiológico do parto — um momento que pode contribuir para eliminar células pré-leucémicas presentes em muitos recém-nascidos, mas que na maioria dos casos não evoluem para cancro.
“Os dados são especialmente relevantes quando falamos de cesarianas realizadas sem uma justificação médica clara”, acrescenta Evmorfia-Kampitsi.
Ainda assim, os autores alertam que os resultados devem ser interpretados com precaução e não devem levar à rejeição de cesarianas indicadas clinicamente.
Este estudo destaca a importância de avaliar cuidadosamente cada decisão obstétrica, ponderando riscos e benefícios para garantir o melhor início de vida possível às crianças.
Fonte: Notícias de Coimbra