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Cancro pediátrico: “Hoje estamos a curar crianças que há 10 anos só recebiam cuidados paliativos”

Owen Smith, hematologista pediátrico no Children’s Health Ireland (Irlanda), acredita que estamos a viver um momento determinante para o futuro do tratamento do cancro pediátrico. A medicina de precisão, a sequenciação genómica e a colaboração internacional estão a transformar a forma como esta doença é compreendida e tratada. Em entrevista recente, o especialista deixou claro: “Estamos a curar crianças que, há 10 ou 15 anos, estavam condenadas a cuidados paliativos”.

Genética no centro da resposta

Ao contrário do cancro em adultos, o cancro pediátrico não está geralmente associado a fatores ambientais, como o tabaco ou o álcool. Segundo Owen Smith, “o foco está na fragilidade do genoma” das crianças. Por isso, o objetivo é compreender a fundo as alterações genéticas que estão na origem da doença.

A sequenciação do genoma – tanto do tumor como do próprio doente – está a permitir essa descoberta. Este avanço tecnológico está a dar origem a tratamentos mais personalizados e a redefinir o que significa ‘cura’: deixar de falar apenas em sobrevivência, mas também em qualidade de vida, sem toxicidade a longo prazo.

Menos quimioterapia, mais precisão

Na leucemia linfoblástica aguda de células T, por exemplo, já é possível identificar subgrupos de crianças que respondem melhor ou pior ao tratamento. Algumas necessitam de terapias experimentais mais intensivas, enquanto outras podem ser tratadas com menos quimioterapia. “Sabemos que há subgrupos com piores prognósticos e outros praticamente curados”, explica Smith.

A urgência de mais financiamento

Apesar dos avanços, o financiamento para a investigação do cancro pediátrico continua a ser muito inferior ao dos cancros em adultos. “Na União Europeia, estas doenças foram deixadas para trás”, alerta. A solução, acredita, passa por criar alianças entre a indústria, os sistemas de saúde, a academia e a sociedade civil. “Podemos ser mais eficazes do que os norte-americanos se trabalharmos em conjunto.”

Colaboração internacional como chave

Dada a raridade e diversidade dos cancros pediátricos, a única forma de recolher dados robustos é através de redes internacionais. Um exemplo é o protocolo europeu “ALLTogether”, que inclui Portugal e permite testar terapias em milhares de crianças com leucemia. Outro exemplo é o projeto irlandês “Magic Eye”, que está a sequenciar o genoma de todas as crianças diagnosticadas com cancro, com o objetivo de adequar os tratamentos.

Futuro com esperança

Smith destaca a nova geração de investigadores focada na redução da toxicidade e no desenvolvimento de terapias mais seguras, como os anticorpos monoclonais ou as células CAR-T. “A genética, a inteligência artificial e a imunoterapia vão revolucionar a área.”

A terminar, o investigador deixou uma nota de esperança: “É um momento incrivelmente entusiasmante. Temos as ferramentas e temos as ideias. E o mais importante: estamos a melhorar. Cada vez curamos mais e com mais qualidade de vida.”

Owen Smith esteve em Lisboa no passado dia 27 de maio para participar na conferência da Acreditar sobre o futuro da oncologia pediátrica em Portugal.

FONTE: Sic Notícias

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