O melanoma é o cancro de pele mais letal em crianças e adolescentes, e a sua incidência tem vindo a aumentar, com cerca de 300 a 500 novos casos por ano nos EUA. A maioria destes casos está associada à exposição excessiva aos raios ultravioleta (UV), especialmente nas duas primeiras décadas de vida, período em que ocorre entre 25% a 50% da exposição solar total ao longo da vida.
Embora raro, o melanoma pediátrico apresenta características clínicas e de diagnóstico diferentes das que se observam em adultos. Fatores de risco não modificáveis, como pele clara, presença de nevos congénitos, mutações genéticas (como CDKN2A, CDK4 e MITF), e doenças como xeroderma pigmentoso, aumentam a suscetibilidade ao melanoma em idades precoces. Crianças imunodeprimidas ou com grande número de nevos (>100) também apresentam maior risco.
Diagnóstico difícil e muitas vezes tardio
O diagnóstico precoce é essencial, mas é muitas vezes dificultado por apresentações atípicas da doença. Os critérios tradicionais ABCDE (assimetria, bordas irregulares, cor variável, diâmetro >6 mm e evolução) falham em até 60% dos casos pediátricos. Foi, por isso, proposto um novo modelo adaptado à idade pediátrica: A de amelanótico, B de sangramento ou protuberância, C de cor uniforme, D de surgimento de novo e E de evolução.
A vigilância por parte das famílias, aliada ao exame dermatoscópico e à biópsia excisional (com margens negativas de 1 a 3 mm), é fundamental para o diagnóstico eficaz. As biópsias superficiais, como as do tipo shave, não são recomendadas.
Tratamento segue protocolos de adultos
Como ainda existem poucos ensaios clínicos específicos para esta faixa etária, o tratamento do melanoma pediátrico segue, na maioria dos casos, os protocolos definidos para adultos. A excisão cirúrgica com margens adequadas é a primeira linha de tratamento. Nos casos avançados, podem ser usados inibidores de checkpoints imunitários e terapias-alvo. Sempre que possível, as crianças devem ser incluídas em ensaios clínicos — vários estudos estão atualmente em curso, nomeadamente com terapias celulares ou imunoterapia.
Prognóstico depende do estádio
A sobrevivência das crianças com melanoma tem vindo a melhorar nas últimas décadas, mas continua altamente dependente do estádio em que a doença é diagnosticada. Crianças com melanoma em fase metastática (estádio IV) têm um tempo médio de sobrevivência inferior a um ano. Apesar disso, o prognóstico por estádio tende a ser mais favorável nas crianças do que nos adultos. No entanto, muitas vezes a doença é diagnosticada tardiamente, o que dificulta o tratamento eficaz.
A presença de ulceração no tumor, maior espessura da lesão e resultado positivo da biópsia do gânglio sentinela estão associados a pior prognóstico.
Prevenção é a melhor arma
A exposição à radiação UV é considerada pela Organização Mundial da Saúde um carcinogéneo do grupo I e é um dos principais fatores de risco evitáveis para o melanoma. A promoção de comportamentos de proteção solar — como o uso regular de protetor solar, roupas adequadas, e a limitação da exposição solar direta — é essencial. Iniciativas legislativas, como a proibição do uso de solários por menores, e programas educativos nas escolas, têm mostrado eficácia na alteração de comportamentos.
Também os meios digitais podem ter um papel positivo: influenciadores nas redes sociais a promoverem o uso de protetor solar, por exemplo, contribuem para alterar crenças normativas e promover práticas saudáveis entre os mais novos.
O melanoma pediátrico continua a ser um desafio clínico e de saúde pública. Apesar da sua raridade, exige atenção redobrada por parte dos profissionais de saúde, das famílias e da sociedade. A aposta na prevenção, no diagnóstico precoce e na inclusão de crianças em ensaios clínicos será determinante para reduzir a mortalidade e melhorar os cuidados prestados às crianças com este tipo de cancro.
Fonte: Dermatology Times