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Nova esperança no neuroblastoma: terapias genéticas e celulares mostram sobrevidas de longa duração

Maria tinha apenas um ano e dez meses quando foi diagnosticada com um neuroblastoma de alto risco em estágio IV. Após mais de um ano de tratamentos intensivos nas Filipinas, que incluíram quimioterapia, cirurgia, radioterapia e transplante autólogo de medula óssea, a doença persistia. Foi então que a família descobriu um estudo inovador em curso no St. Jude Children’s Research Hospital (EUA), e decidiu procurar novas alternativas.

Maria foi admitida no hospital norte-americano em 2019, onde a equipa médica iniciou uma terapia combinada com quimioterapia e anticorpos anti-GD2, utilizados na imunoterapia. Apesar da resposta parcial, os testes genéticos revelaram uma mutação rara no gene BARD1, o que permitiu iniciar uma abordagem experimental: a combinação do inibidor de PARP talazoparibe com o quimioterápico irinotecano. A estratégia funcionou.

Hoje, Maria tem nove anos, está sem sinais de doença e vive uma vida normal. O caso foi descrito numa carta publicada em 2024 no New England Journal of Medicine, e levou a equipa a alargar a investigação a outras crianças com mutações genéticas relacionadas com defeitos de reparo do ADN.

Outro caso marcante foi recentemente divulgado por investigadores do Baylor College of Medicine (EUA) e do Texas Children’s Hospital (EUA). Uma mulher, que tinha recebido um tratamento experimental com células T-CAR para um neuroblastoma refratário durante a infância, continua sem sinais de doença 18 anos depois. Este é, até hoje, o caso de sobrevida mais prolongado conhecido em pacientes com neuroblastoma tratados com células T-CAR.

As células T-CAR são modificadas geneticamente para reconhecerem e destruírem células tumorais. No neuroblastoma, os alvos mais promissores têm sido antigénios como o GD2. Apesar dos resultados animadores, o tratamento pode provocar efeitos adversos graves, como a síndrome de liberação de citocinas. Para mitigar os riscos, investigadores em Itália testaram com sucesso células T-CAR com um “gene suicida”, que permite eliminar as células modificadas em caso de efeitos indesejados.

Paralelamente, estão a ser estudadas células NK-CAR, capazes de atacar diretamente as células tumorais e também os macrófagos que promovem o crescimento do tumor. Num estudo com 12 crianças com neuroblastoma, cinco responderam positivamente ao tratamento e uma delas teve uma remissão duradoura.

Grande parte destes avanços tem sido possível graças a redes colaborativas como o consórcio New Approaches to Neuroblastoma Therapy (NANT), que inclui o St. Jude e outras instituições na Europa e nos EUA. O NANT tem sido essencial para acelerar ensaios clínicos, testar novas terapias e gerar conhecimento rápido sobre o que funciona e o que precisa de ser melhorado.

Os resultados serão apresentados no encontro Advances in Neuroblastoma Research Meeting, nos EUA, no final de maio. Entre os destaques estão novas aplicações das células CAR, alvos imunoterapêuticos emergentes e abordagens personalizadas para mutações genéticas específicas.

Apesar dos avanços, investigadores alertam que cortes de financiamento nos National Institutes of Health (EUA) podem comprometer este ritmo de inovação. Ainda assim, mantém-se a esperança de que o apoio filantrópico e o trabalho conjunto com organizações de defesa de doentes permitam continuar a abrir caminhos para tratar, com sucesso, mais crianças com cancro pediátrico.

FONTE: Medscape

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