A exposição precoce a uma toxina produzida por bactérias intestinais pode ajudar a explicar o aumento preocupante de casos de cancro colorretal em pessoas jovens — um padrão que os especialistas já consideram alarmante. Segundo um novo estudo publicado a 23 de abril na revista Nature, os danos provocados por esta toxina podem começar logo nos primeiros anos de vida.
Investigadores da Universidade da Califórnia, em San Diego (EUA), analisaram amostras de tecido de cerca de mil pessoas diagnosticadas com cancro colorretal em vários países. Descobriram que cerca de metade dos casos diagnosticados antes dos 40 anos apresentavam um padrão específico de mutação no ADN associado à exposição à colibactina — uma toxina genotóxica produzida por certas estirpes de bactérias E. coli.
Os dados sugerem que a exposição à colibactina pode ocorrer na infância, especialmente durante os primeiros 10 anos de vida. Fatores como o uso precoce de antibióticos, dietas pobres em fibras, nascimento por cesariana, menor duração da amamentação ou ambientes microbianos partilhados (como em creches) podem facilitar esse contacto.
Apesar de a investigação não provar uma relação de causa e efeito, os autores sublinham a importância de considerar como o ambiente na infância pode ter impacto no risco de cancro mais tarde. “Alguém que adquira estas mutações aos cinco anos pode desenvolver cancro colorretal décadas antes do esperado”, afirmou Ludmil Alexandrov, investigador principal do estudo, à NBC News.
A colibactina já era conhecida pela sua capacidade de danificar o ADN, mas este estudo é um dos primeiros a associar claramente essa toxina a casos de início precoce da doença. Outros microrganismos, como a Fusobacterium nucleatum, também têm sido associados à progressão do cancro colorretal, podendo favorecer o crescimento do tumor e escapar à vigilância do sistema imunitário. Neste cenário, a colibactina poderá ser o “gatilho” e a F. nucleatum um potenciador da doença.
Com o aumento contínuo destes casos em pessoas com menos de 50 anos, os especialistas alertam que, se a tendência se mantiver, o cancro colorretal poderá tornar-se a principal causa de morte por cancro entre adultos jovens até 2030. Esta nova descoberta chama a atenção para a importância de investigar como prevenir a exposição precoce a toxinas bacterianas e repensar estratégias de rastreio e prevenção desde a infância.
Fonte: ZAP