Investigadores identificaram alterações genéticas raras, conhecidas como variantes estruturais germinativas, que aumentam o risco de tumores sólidos pediátricos, sobretudo neuroblastoma. O estudo, publicado na revista Science, analisou o genoma de 1.765 crianças com cancro, os seus pais e 6.665 adultos saudáveis, e revelou que este tipo de alterações pode estar na origem de até 5,6% dos casos de cancro pediátrico sólido.
Estas variantes estruturais são alterações no material genético com mais de 50 pares de bases e são menos estudadas do que outras mutações genéticas. Os investigadores descobriram que algumas destas variantes, especialmente as de grandes dimensões (com mais de 1 milhão de pares de bases), estão associadas a um risco quatro vezes maior de cancro em rapazes. Este padrão de risco com base no sexo ainda não está totalmente compreendido.
No neuroblastoma, um dos cancros pediátricos mais comuns e de início mais precoce, foi onde se observou o maior impacto das variantes germinativas. Algumas dessas alterações afetam genes essenciais ao desenvolvimento normal do sistema nervoso e estão também associadas à desregulação da expressão genética nos tumores das crianças.
O estudo demonstrou que estas variantes podem afetar não só genes conhecidos pela sua ligação ao cancro, como o PHOX2B e BARD1, mas também regiões do genoma que não codificam proteínas, interferindo com zonas reguladoras da organização do ADN. Este efeito foi observado no neuroblastoma, mas não no sarcoma de Ewing, o que sugere diferentes mecanismos genéticos entre os vários tipos de tumores pediátricos.
Embora o impacto destas variantes estruturais ainda represente uma pequena fração do risco total (entre 1,1% e 5,6%), os autores destacam que estes achados ajudam a preencher parte da “hereditariedade em falta” dos cancros pediátricos, ou seja, os fatores genéticos que ainda não tinham sido explicados.
Estes dados apoiam a inclusão das variantes estruturais raras em testes genéticos para avaliar a predisposição ao cancro pediátrico. Além disso, podem ajudar a personalizar estratégias de vigilância e tratamento, contribuindo para diagnósticos mais precoces e terapias mais direcionadas.
Fonte: Science