A confiança no sistema de saúde está a diminuir em vários países e a desinformação tem um papel central neste fenómeno. Esta foi a principal conclusão de um webinar promovido pelo Observatório Europeu de Sistemas e Políticas de Saúde, que juntou especialistas internacionais para refletir sobre o impacto da desinformação na relação entre os cidadãos e os serviços de saúde.
Rachel Greenley, investigadora da London School of Hygiene and Tropical Medicine (Reino Unido) e consultora da Organização Mundial da Saúde, foi uma das primeiras a intervir. Lembrou que “quando as pessoas deixam de confiar nos sistemas de saúde, tendem a usá-los menos” e alertou para o papel da desinformação nesse afastamento. “As vacinas são um exemplo claro: a desconfiança leva a piores resultados de saúde e mais sofrimento para os profissionais”, explicou.
Rachel sublinhou que é necessário repensar a comunicação no setor: “Não podemos combater a desinformação do século XXI com estratégias do século XX.” Defende uma abordagem mais transparente e centrada nas pessoas, onde a tecnologia e a formação dos profissionais de saúde estejam ao serviço da empatia, da equidade e da sustentabilidade.
Um exemplo de resposta eficaz foi apresentado por Svitlana Nidzvetska, professora na National University of Kyiv-Mohyla Academy, na Ucrânia, que descreveu como, mesmo em contexto de guerra, o país conseguiu gerir um caso de poliomielite com uma comunicação clara, horizontal e colaborativa.
Já Sheena Cruickshank, imunologista da University of Manchester (Reino Unido), destacou que muitas mensagens públicas sobre saúde são confusas ou alarmistas. “É essencial comunicar com base na melhor evidência científica, mas de forma acessível, usando formatos como vídeo e redes sociais, e respeitando a diversidade”, disse.
Yuxi Wang, investigadora no French Institute for Demographic Studies (França), acrescentou que a desinformação prospera num cenário de desconfiança, alimentado por algoritmos das redes sociais que favorecem o conteúdo emocional em detrimento da evidência. “É preciso responsabilizar quem partilha desinformação e mudar os algoritmos para proteger o interesse público”, sugeriu.
A especialista citou a Finlândia como um bom exemplo, onde as escolas ensinam pensamento crítico desde cedo para ajudar as crianças a distinguir factos de falsidades.
No encerramento, Yuxi Wang e Sheena Cruickshank concordaram que os médicos e profissionais de saúde têm um papel central na reconstrução da confiança. “É preciso ir além do discurso racional. Uma comunicação eficaz deve também criar ligação emocional e demonstrar empatia”, concluíram.
Fonte: Medscape