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Cancro: Adolescentes e jovens adultos sobreviventes continuam a enfrentar riscos elevados a longo prazo

O número de sobreviventes de cancro diagnosticados entre os 15 e os 39 anos — conhecidos como sobreviventes de AYA (Adolescente e Jovem Adulto) — está a crescer rapidamente. Só nos Estados Unidos existem mais de 2 milhões de sobreviventes. No entanto, apesar dos avanços, continuam a existir riscos elevados de mortalidade a longo prazo, revela um novo estudo publicado na revista The Lancet Public Health.

A investigação, liderada por Taylor Hughes e colegas no Alberta AYA Cancer Survivor Study (Canadá), acompanhou 24.459 sobreviventes ao longo de uma mediana de nove anos após o diagnóstico. Aos 30 anos de acompanhamento, a mortalidade cumulativa foi de 35,6%. Quando comparados com a população geral, estes sobreviventes tinham um risco 11 vezes superior de mortalidade, e mesmo os que alcançaram cinco anos de sobrevivência continuavam com um risco quatro vezes superior.

A principal causa de morte continuou a ser a recorrência ou progressão do cancro. Contudo, a partir dos 10 anos após o diagnóstico, causas não relacionadas com o cancro e novos tumores primários (SPN) tornaram-se mais comuns. A boa notícia é que se verificou uma redução na mortalidade entre os sobreviventes diagnosticados em décadas mais recentes, principalmente devido à diminuição das mortes por progressão da doença.

Ao analisar por tipo de cancro, os sobreviventes de cancro endometrial, testicular e de linfoma de Hodgkin apresentaram uma maior mortalidade associada a causas não relacionadas com a progressão do cancro, especialmente a partir dos 10 anos após o diagnóstico. Estes dados destacam a importância dos cuidados de sobrevivência focados no rastreio de complicações tardias.

Entre os sobreviventes de linfoma de Hodgkin, por exemplo, 8% morreram devido a novos tumores primários e 4,4% por doenças circulatórias, riscos já bem conhecidos. No entanto, os resultados relacionados com doenças endócrinas e causas externas em sobreviventes de cancro endometrial e testicular revelam áreas que exigem mais investigação.

Apesar dos progressos, os resultados também mostram que a sobrevivência a curto e longo prazos para cancros como sarcomas e tumores do sistema nervoso central continua estagnada há décadas. Projetos colaborativos, como os ensaios da National Cancer Institute Clinical Trials Network (NCTN) (EUA), mostram potencial para acelerar a melhoria dos resultados. Um exemplo é o estudo SWOG S1826, que investigou a adição de nivolumab à quimioterapia padrão para linfoma de Hodgkin avançado, conseguindo não só aumentar a sobrevivência livre de progressão como reduzir o uso de radioterapia, o que pode diminuir efeitos tardios.

A investigação reforça ainda a necessidade urgente de expandir o acesso aos cuidados de sobrevivência, com rastreios adequados para efeitos tardios e novos cancros, especialmente para minorias étnicas e populações com menos recursos, que enfrentam barreiras adicionais no acesso aos cuidados.

Por fim, há também um alerta para a necessidade de seguimentos mais prolongados, especialmente para os sobreviventes tratados com terapias mais recentes, cujos efeitos a longo prazo ainda não são totalmente conhecidos.

Conforme a população de sobreviventes de AYA continua a crescer, as prioridades devem passar por garantir o acesso precoce ao diagnóstico, tratamentos de qualidade, participação em ensaios clínicos e desenvolvimento de estratégias que reduzam o risco de mortalidade a longo prazo.

Fonte: The Lancet

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